Zeólitos em Portugal
Nesta página poderá encontrar breves referências a ocorrências de zeólitos em território nacional. Agradece-se colaboração.
Complexo Vulcânico de Lisboa
Loures
Heulandite-Ca proveniente de uma nova ocorrência no CVL. Campo fotografado com cerca de 20 mm. Foto gentilmente cedida por Rui Nunes.
Filão camada da Lomba dos Pianos
Foto gentilmente cedida por Rui Nunes
Situa-se entre as praias da Samarra e Magoito atingindo espessuras de 20 m e insere-se no Complexo Vulcânico de Lisboa. Neste afloramento foi possível reconhecer estruturas globulares com natrolite e thomsonite-Ca. Mais raramente surgem cavidades onde glóbulos capilares destes minerais surgem sobre analcima. São conhecidos espécimes com analcima e stilbite (?) e heulandite. Possivelmente existe chabazite.
Natrolite e thomsonite sobre analcima, 9x8 cm, Lomba dos Pianos. Foto Rui Nunes, coleção Ricardo Pimentel.
Thomsonite, Lomba dos Pianos. Fotos e coleção Rui Nunes.
Penedo do Lagarto, Montelavar, Sintra
Nesta pedreira de gabro ocorre thomsonite e mordenite, mordenite confirmada por análises SEM e XEDS, segundo comunicação oral de Rui Nunes
Mordenite, aprox 10 mm, Penedo do Lagarto, foto gentilmente cedida por Rui Nunes
Thomsonite, Penedo do Lagarto, campo de observação 12 mm, foto gentilmente cedida por Rui Nunes
Penedo de Lexim
Trata-se do que resta da chaminé de um aparelho vulcânico do Complexo Vulcânico de Lisboa. O afloramento é de basalto alcalino (tefrito), holocristalino e de textura porfirítica, onde ocorre uma disjunção colunar regular. Contém como fenocristais olivina, piroxena e ulvospinela. As fases principais da matriz são piroxena, ulvospinela, plagioclase e olivina e, na mesostase (solidificação da última fracção magmática nos espaços entre os primeiros minerais já solidificados), ocorre calcite, apatite, feldspato alcalino, plagioclase, analcite, natrolite, interestratificados clorite/saponite e saponite. O preenchimento das fissuras é constituído por uma paragénese relativamente homogénea, onde domina a associação natrolite+analcima+calcite.
Referências e leitura recomendada: BRILHA J.B.R. (1997) – Cinética de cristalização e de alteração pós-magmática de uma chaminé basáltica do Complexo Vulcânico de Lisboa. Modelização do arrefecimento e do mecanismo de fracturação em profundidade. Tese de doutoramento. Universidade do Minho/Université de Poitiers, 177p
Oeiras
Associadas ao Complexo vulcânico de Lisboa assinale-se a ocorrência de analcima, natrolite e thomsonite em Valejas e em Queijas (também ocorrências de natrolite (mesolite?) rosada, comunicação oral de Carlos Marques).
Analcima, 7x6 cm, Valejas. Foto Rui Nunes, colecção Ricardo Pimentel.
Valejas. Foto Rui Nunes
Referências e leitura recomendada: ALVES C. A. M., RODRIGUES B., SERRALHEIRO A., FARIA A. P. (1980) O Complexo Basáltico de Lisboa. Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal - Tomo 66, pp 111-134.
Maciço Eruptivo de Monchique
O maciço alcalino de Monchique é um dos mais importantes da Europa e um dos maiores que se conhecem de composição
miasquítica em contraste com a maioria dos grandes complexos alcalinos de natureza essencialmente agpaítica, como por exemplo Lovozero, Langesundfjord, Ilimaussaq e Mont Saint-Hilaire.
O maciço alcalino de Monchique de idade cretácica é de natureza intrusiva e estará relacionado com a abertura do Atlântico Norte, particularmente com a abertura do Golfo da Biscaia, conjuntamente com os maciços de Sintra e Sines. Terrinha e Kullberg (1998) propuseram um modelo especulativo para a instalação dos maciços ígneos de Sintra, Sines e Monchique em que consideravam a existência de um deslocamento litosférico que separou dois segmentos litosféricos frágeis, esse deslocamento seria uma falha NNW-SSE, localizada na litosfera inferior, ao longo desta falha ter-se-ia dado a ascensão magmática e em falhas, aproximadamente E-W, situadas na litosfera superior, ter-se-iam instalado os três complexos ígneos. O maciço de Monchique que foi datado com a idade de 72 ± 2 M.A (Rock, 1983), método K-Ar, faz parte da Província Ígnea Alcalina da Península Ibérica e apresenta uma estrutura zonada, tal como em Sines e Sintra, tendo o contacto com a rocha encaixante paleozóica atitude subvertical. Segundo González-Clavijo & Valadares (2003) o alongamento do maciço e a presença de um sistema de falhas (ENE-WSW), que poderiam resultar da reactivação de estruturas antigas, apoiam a hipótese da existência de um controlo estrutural da intrusão. Este processo ter-se-ia iniciado com a intrusão de grandes diques de rochas básicas, segundo as falhas ENE-WSW, seguido-se a instalação de vários corpos intrusivos, de geometria ovóide e composição sienítica. Nas zonas de interacção entre as rochas básicas e as primeiras intrusões sieníticas, formaram-se brechas de vários tipos. A debilidade estrutural gerada pelas primeiras intrusões teria facilitado a ascensão do corpo de sienito nefelínico, de grandes dimensões, que ocupa a posição central.
O maciço sienítico, aflora numa área com cerca de 80 Km2, com forma aproximadamente elíptica. Mais de 90% do afloramento consiste em sienitos nefelínicos (muitos do tipo foiaíto), veios de aplito-pegmatitos nefelínicos, diques e filões de composição essencialmente sienitica, filões de lamprófiros (entre os quais monchiquitos) e fonólitos. O restante corresponde fundamentalmente a gabros com feldspatóides e brechas ígneas. A intrusão do maciço gerou uma auréola de metamorfismo de contacto, com corneanas, que apresenta uma espessura mais ou menos constante de 200 m, exceptuando na área NW onde a espessura é superior a 1 Km (Gonzáles-Calvijo & Valadares, 2003), veios de aplitos feldspatóidicos, filões de lamprófiros (entre os quais monchiquitos) e fonólitos. A datação por Rb-Sr dos sienitos nefelínicos (72.3 ± 4.2 Ma) e das unidades máficas (71.5 ± 3.6 Ma) revelou idades próximas, e concordantes, com a datação de Rock indicando que as várias unidades terão tido origem no mesmo magma parental, que segundo os últimos dados geoquímicos será de origem mantélica com pouca contaminação crustal.
Com base no estudo de Gonzáles-Calvijo & Valadares (2003) o maciço alcalino de Monchique apresenta uma estrutura zonada central. A principal diferenciação faz-se entre dois tipos de sienitos nefelinicos: um nuclear, que apresenta uma fácies grosseira e uma unidade anelar exterior de sienito heterogéneo na textura e granularidade (Foto 1). O sienito nuclear, que ocupa uma superfície que passa os 50% da área aflorante do maciço, apresenta-se bastante homogéneo, na textura e granulometria, e apresenta um conteúdo de nefelina superior a 25% (em boa parte da variedade eleolite). A unidade exterior, que ocupa cerca de 40% do maciço, apresenta um teor menor de nefelina, geralmente inferior a 10%, uma granulometria variável, de muito fino a grosseiro, e uma fracturação superior à da unidade central. Outros autores como, por exemplo, Czigen (1969) e Gonçalves (1967) consideraram o maciço como sendo constituído por apenas um corpo de sienito nefelínico ocasionado por uma única pulsação magmática. Segundo Czigen (1969) as diferentes variedades de sienito que aparecem na área marginal resultariam da contaminação por assimilação de rochas encaixantes.
Foto 1- Amostras de sienitos da unidade central (A) e da unidade periférica (B). Note-se a diferença no teor de nefelina e na granulometria. O exemplar A (7x6 cm) foi recolhido na pedreira de Nave e corresponderá provavelmente a um foiaíto e o exemplar B (9x7 cm) foi recolhido no alto da Foia onde, por curiosidade, refira-se que não existe foiaíto. Foto e exemplares de Ricardo Pimentel.
A Mineralogia do Maciço Alcalino de Monchique
Fazendo uma simbiose entre os artigos de Rock (1983) e Gonzáles-Calvijo & Valadares (2003) a mineralogia das rochas sieníticas inclui, como minerais principais, feldspato alcalino (ortóclase e microclina), nefelina, piroxenas (aegirina e augite) e micas. Os minerais acessórios incluem analcima, apatite, calcite, cancrinite, esfena, fluorite, lavenite, natrolite, pirite, pirocloro, rosenbuschite, rútilo, sodalite, turmalina, wölerite e zircão.
As amostras bem cristalizadas são relativamente raras dado que o sienito, e restantes rochas do maciço, se apresentam bastante compactas e relativamente pobres em cavidades. No entanto as cavidades miaroliticas (Foto 2) e alguns veios pegmatíticos permitiram obter cristais, geralmente milimétricos ou sub-milimétricos, de analcima, natrolite, fluorite, aegirina, lepidolmelana, ancylite-Ce, calcopirite, magnetite, pirite, pirrotite, galena, sodalite e zircão. Inclusos no monchiquito encontraram-se cristais de sanidina. De todo estes o mais notáveis são os que se referem aos minerais do grupo dos zeólitos já que alcançam dimensões bastante superiores aos outros cristais.
Foto 2- Cavidade miarolitica, em sienito da unidade central. A cavidade, com cerca de 30 cm, estava atapetada com cristais de natrolite. Foto de Ricardo Pimentel em Setembro de 2004.
Natrolite, 8 cm. Colecção e foto Rui Nunes
Natrolite atravessada por cristal de aegirina
Natrolite
Analcima com inclusão de aegirina
As fotografias são da autoria de Volker Betz em exemplares fornecidos por mim.
Referências e leitura recomendada:
GONÇALVES, F. (1967). Subsídios para o Conhecimento Geológico do Maciço Eruptivo de Monchique. Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal - Tomo LII, 16 pp
GONZÁLES-CLAVIJO, E. J., VALADARES, V. (2003). O Maciço Alcalino de Monchique (SW português): Estrutura e Modelo de Instalação na Crosta Superior. Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro, Tomo 90, pp. 43-64.
Instituto Geológico e Mineiro (2000). Portugal - Indústria Extractiva.
Versão Online no site do IGM (https://www.igm.pt/edicoes_online/diversos/ind_extractiva/indice.htm).
ROCK, N. M. S. (1983). Alguns Aspectos Geológicos, Petrológicos e Geoquímicos do Complexo Eruptivo de Monchique. Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, Tomo 69, Fasc. 2, pp.325-372
P. ALVES, C. LEAL GOMES (2010). Mineralização Sr-Ba tardia em cavidades de rochas filonianas subsaturadas do Maciço Alcalino de Monchique. CNG 2010 (Braga, Portugal)
TERRINHA P. A. G., KULLBERG M. C. (1998). An Emplacement Model for the Late Cretaceous Igneous Massifs of Sintra, Sines and Monchique. Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro - Tomo 84 - 1º Volume, pp.D53-D56.
Nota final: Na pedreira de Palmeira nº 2 (Pedreira nº 3646), Monchique, apareceram óptimas amostras de analcima, natrolite e chabazite-Sr. Como minerais interessantes da paragénese assinale-se a presença de excelentes cristais de hilairite e gaidonnayte. Os meus exemplares foram oferta de Pedro Alves a quem agradeço a simpatia.
Filão das Gaeiras
Ocorrência de natrolite no filão dolerítico nas proximidades do moinho do Catulão.
Referências e leitura recomendada: FERREIRA, M.P., e MACEDO, C.A.R., (1987). Idade radiométrica K-Ar do filão das Gaeiras (Óbidos). Proc. VII Semana de Geoq. Resumos de Comunic., U. Aveiro
MONTENEGRO DE ANDRADE M. (1977) Sobre um Belo Exemplar de Natrolite do Filão Dolerítico das Gaeiras (Caldas da Rainha). Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal - Tomo LXI, 14pp
Mesquitela
Localização famosa pelos seus fosfatos aparece referenciada como ocorrência de pollucite num trabalho de Gustav Steberl (comunicação oral de Luís Martins).
Fornos de Algodres
Aparece referenciada como ocorrência pegmatítica de laumontite em cristais de 2 mm juntamente com quartzo, feldspato, fluorite e apatite.
REWITZER, C. e RÖSCHL, N. (1984) Portugal - Fundortbeschreibungen und Reisetips, Lapis, 9 (12), 13-17
Serra de Arga
Segundo comunicação oral de Luís Martins um artigo cita a ocorrência de pollucite na Serra de Arga. Informações complementares de Pedro Alves atestam esta ocorrência em cristais de muito boa qualidade.
Arquipélago da Madeira
Segundo um artigo (em língua holandesa) fornecido por Luís Martins cita-se ocorrência de chabazite e phillipsite no arquipélago da Madeira.
Gonçalo
Segundo comunicação oral de Luís Martins ocorre pollucite nos pegmatitos de Gonçalo.
Pedreira dos Montijos
Segundo comunicação de António Martins, com base na colecção de Carlos Marques, ocorre chabazite na pedreira dos Montijos. Esta eventual ocorrência não se confirmou aquando da realização do artigo sobre a pedreira de Montijos.
Exemplares de zeólitos de Portugal na minha coleção
Calcite com analcima e natrolite, Palmeiras, Monchique, coleção e fotos de Ricardo Pimentel
Analcima com natrolite, Palmeiras, Monchique, coleção e foto de Ricardo Pimentel